02 fevereiro, 2010

José Serra: "O problema está na natureza... temos que rezar"

É visível a preocupação da mídia em provar que a quantidade chuva que atinge São Paulo é a maior em pelo menos oitenta anos. Na rádio Band News FM no final de Janeiro ouvi a meteorologista do grupo Bandeirantes de Rádio e Televisão lamentar que o recorde histórico não tivesse sido quebrado naquele dia.

Existe toda uma preocupação para eximir José Serra e o “tucanato” paulista da responsabilidade pelas inundações que ocorrem em São Paulo.

Evidentemente o governador não tem responsabilidade pela chuva que castiga todo o estado diariamente e que matou até agora setenta pessoas. Por outro lado, é muito negativo que o possível pré-candidato do PSDB* à presidência da República não tenha apresentado ainda nenhum plano de emergência para contenção de alagamentos e salvar as pessoas que vivem nos bairros dos jardins Romano e Pantanal em São Paulo, nem qualquer outro plano para amenizar ou evitar que voltem a acontecer desastres como os têm ocorrido por todo o estado.

Em 2004 o governo Alckmin terminou o rebaixamento da Calha do Rio Tietê, obra que custou R$ 731 milhões de reais aos cofres públicos e deveria encerrar o histórico de inundações na marginal, nas palavras do próprio governador. Se as obras de desassoreamento fossem realizadas constantemente nunca mais a marginal inundaria, porém, nos últimos dois anos o governo Serra interrompeu esse serviço para contenção de gastos. Por isso, a Emae (Empresa Municipal de Água e Esgotos) que controla a barragem da Penha no rio Tietê (região norte da capital) vem fechando suas comportas desde o inicio das chuvas para evitar o transbordamento na marginal, porém, em conseqüência disso os bairros da zona leste e que ficam próximos a margem do rio (Jardim Romano e Pantanal) foram e continuam alagados há mais de um mês. Como a desgraça não fosse pouca, um problema numa estação de tratamento da Sabesp na zona leste fez refluir todo o esgoto coletado na região para os bairros alagados. A imprensa preserva o governo de São Paulo de tudo que possa impedir sua candidatura à presidência da República enquanto Serra se omite pedindo aos paulistanos que rezem.

As obras de ampliação da Marginal Tietê iniciadas em 2009 demonstram que o governo Serra não está preocupado com a permeabilidade dos solos em São Paulo, além disso, com a construção de mais três pistas ficou impossível a execução de novas obras de aumento da calha do rio. As novas pistas da marginal estão sendo executadas a toque de caixa pois tem como objetivo diminuir o trânsito em São Paulo no ano em que o PSDB pretende voltar a presidência da República, pois a ampliação da marginal é completamente desnecessárias, visto que os trechos norte e leste do Rodoanel deveriam desviar boa parte do trânsito rodoviário que corta São Paulo (com a ampliação da marginal desconfio inclusive que o Rodoanel não virá a ser finalizado nas próximas décadas).

Agora surge um novo problema em vários sistemas de reservatórios de águas que circundam a região metropolitana de São Paulo: Guarapiranga, Billings, Rio das Pedras (Alto Tietê), Pirapora e Cantareira. Nessas represas o nível da água atingia, antes mesmo das chuvas começarem, o seu limite de segurança ameaçando inundar várias cidades. A prefeitura de Atibaia fez denúncias graves contra a Sabesp responsabilizando-a pelas enchentes que atingiram a cidade e por negligência na gestão das comportas. Em nota do dia 6 de Janeiro a prefeitura daquele município afirmava que há quinze dias a Sabesp havia aberto as comportas aumentando em quase vinte vezes a vazão do rio Atibaia, causou inundações na cidade. Na mesma nota a prefeitura estranhou que o reservatório estivesse cheio mesmo com o período precedente de estiagem.

Segundo o ambientalista José Arraes que concedeu entrevista a Luiz Carlos Azenha do Blog Viomundo, o conjunto das represas do Alto Tietê já estava no limite da capacidades antes do inicio das chuvas. Para ele isso ocorre porque através de uma PPP (Parceria Público Privada) a gestão das águas fora privatizada por um consórcio encabeçado pela construtora Queiroz Galvão, ou seja:

“Toda a água represada em todas as barragens do Sistema do Alto Tietê são gerenciadas por esse consórcio. Quanto mais cheias as represas, mais interessantes para o consórcio. Interesse comercial, nada mais do que isso. [...] As empresas do consórcio fazem a conservação das barragens e a intermediação com a necessidade da Sabesp que a trata e remete para a população. Logo, para o consórcio de empresas, quanto mais cheias estiverem as barragens, mais água fornece para a Sabesp. Mais ganhos financeiros, portanto.[...] O fato é que as barragens do Alto Tietê estão excessivamente cheias e as comportas estão sendo abertas, contribuindo com as inundações em toda a calha do rio até a região do Pantanal” .

Ou seja, a Sabesp solta no rio Tietê a água que a Queiroz Galvão estava segurava no Alto Tietê e na outra ponta a Emae fecha as comportas para evitar que as águas inundem a marginal.

Ontem ouvi na Band News FM de uma autoridade do governo do estado que ele estuda a possibilidade de abrir a vazão de saída do sistema Alto Tiete (Guarapiranga, Billings e Rio das Pedras) pelo canal que chega à Cubatão. No entanto, o funcionário do governo disse que não haver ainda um plano de retirada dos moradores das regiões que poderão ser alagadas naquela cidade.

É preciso questionar. Como Serra pretende governar o país? O Brasil não precisa de outro presidente que só saiba privatizar e cortar gastos. Bastou-nos FHC. O eleitorado brasileiro já deixou bem claro para Alckmin (em 2002) que ele não aceita mais esse tipo de governo - gestor.

*José Serra deu como prazo o mês de Março para anunciar se será ou não candidato à presidência. Paulo Henrique Amorim, no entanto, acha que Serra não resistirá às águas de Março.

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