21 agosto, 2009

O dia em que o jornal Cruzeiro do Sul acabou


O vereador Ditão Oleriano (PMN), na sessão de terça-feira (17) da Câmara Municipal, a respeito da prisão do Secretário Januário Renna, surpreendido com três adolescentes em um motel, declarou que "O que um garoto ou uma garota com 16 anos, que não pode trabalhar, vai fazer nessa idade para vestir um tênis, uma camisa da moda? Vai traficar, roubar, se prostituir, é óbvio.”

Pela forma como se pronunciou, fazendo referência ao caso do Secretário Municipal, chegando a mencionar que "ninguem está livre desse tipo de armadilha", o nobre edil, na verdade, de forma enviesada, num ato falho, transfere a culpa pela "armadilha" para as adolescentes, já que estas, para "comprar um tênis da moda", teriam como única saída a prostituição.

Tal afirmação, por parte do vereador Ditão Oleriano, embora cause indignação, não surpreende.

Surpreendente é que o Jornal Cruzeiro do Sul, em editorial de 20/08/09, a pretexto de defender o trabalho de adolescentes, corrobore a afirmação do dito vereador, "entortando" ainda mais a linha de argumentação e justificando, implicitamente, a lógica de que é óbvio traficar, roubar ou se prostituir para vestir um tênis da moda.

Observe-se, ainda, que o ato de se prostituir, em que a adolescente é vítima, é equiparado ao ato de roubar ou de vender drogas.

O dito jornal tenta previnir futuras críticas alegando que "Ditão exprimiu um pensamento compartilhado por muita gente, e que merece ser analisado sem preconceitos ou frases prontas."

Ora, a questão da prostituição infantil, da pedofilia, só será resolvida com educação de qualidade, em período integral para todos; com a luta contra a sociedade de consumo, que transforma pessoas em objetos e objetos em ídolos, através da publicidade sem escrúpulos, da qual o jornal Cruzeiro do Sul é cúmplice.

O nobre vereador e o dito jornal fariam mais pela infância se se juntassem a luta pela redução da jornada de trabalho no Brasil, garantindo que pais e mães possam estar durante mais tempo com seus filhos.

Por fim, não deixa de ser irônico que um jornal que por suas ligações com a maçonaria é conhecido como a "A Trombeta do Bode", ao completar um século de existência, por suas simpatias implícitas, passe a ser conhecido como "A Trombeta do Bode Velho".

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