06 agosto, 2009

A Juventude e o processo político em Honduras


A juventude tem tomado parte fundamental da resistência ao golpe militar em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya, derrubado há um mês. E sempre da sua forma, irreverente e inovadora.

Fazendo um curso de Direitos Humanos na Costa Rica, depois seguindo para Cuba, onde pretende cruzar de bicicleta a Ilha Rebelde, de ponta a ponta, meu amigo cicloativista Raoní Beltrão, conheceu o jovem hondurenho Carlos Sierra, que é dirigente estudantil no ensino médio, membro do Fórum Nacional de Juventude (http://www.fnjhn.org/), do processo socio-político Agentes de Cambio de Honduras (http://www.fesamericacentral.org/) e militante dos movimentos de resistência de seu país. Carlos, gentilmente, por intermédio de Raoní, concedeu essa entrevista ao blog, que reproduzo abaixo.

JUVENTUDE EM PAUTA - Como você, jovem hondurenho, vê o golpe militar? O que está em jogo?
Carlos Sierra - Como jovem hondurenho vejo o golpe de Estado como uma ação desesperada, realizada pelos setores conservadores e empresariais do meu país para frear as mudanças que se avizinhavam nos próximos anos (reformas importantes que beneficiariam a grande maioria despossuída de Honduras). Ademais, o golpe demonstra a débil democracia e instituições políticas que temos, poder judicial parcial, forças armadas vendidas e congresso corrupto.
JUVENTUDE EM PAUTA - Recentemente, assistimos que parte dos jovens criaram mídias alternativas para transmitir ao mundo o que se passou no país quando da derrubada de Zelaya...E os jovens de direita, são fortes e organizados?
Carlos - Para começar, os jovens de direita não existem, são simples marionetes dos setores conservadores que desejam mostrar uma face mais fresca e renovada. Sobre os meios de comunicação alternativos no meu país, um país em desenvolvimento, não conta com muitas alternativas, mas há a televisão, o rádio e um baixo acesso à internet, ainda assim existem pequenas iniciativas como o blog http://hondurasresistencia.blogspot.com/3
JUVENTUDE EM PAUTA- Qual é a condição social dos jovens hondurenhos? Quais os sonhos deles?
Carlos - Os jovens em Honduras representam mais de 60% da população total, apesar disso não existem políticas públicas específicas para esse amplo setor da população. Os programas educativos não satisfazem o tamanho das expectativas dos jovens, não se atualiza os currículos, em que pese esse ser esta população a mais produtiva. Se quer que a juventude no país seja o destaque em todos os sentidos, tanto econômico como na tomada de decisão desde agora na juventude, com clareza do panorama que deve enfrentar.Nossos sonhos são amplos espaços políticos de participação e exercício da cidadania plena.
JUVENTUDE EM PAUTA - O governo Zelaya desenvolvia políticas públicas específicas para a juventude? Elas já era desenvolvidas antes? Tem exemplos?
Carlos - No governo de Zelaya se implementou a Lei Marco da Juventude, assim como o Instituto Nacional de Juventude, órgão que ainda está sendo construído e com pouca perspectiva de continuidade, algo que é visto como bom por parte dos jovens sobre o presidente Zelaya, mas ainda existem dúvidas grandes já que o governo tem se revelado conservador com os temas juvenis, sobretudo sexualidade e aborto terapêutico.
JUVENTUDE EM PAUTA - Qual é na sua opinião um projeto nacional para Honduras? Qual o papel dos jovens na construção dele?
Carlos - Uma visão de país ou projeto nacional sempre foi presente entre a juventude, mas as estruturas atuais de poder tem marginalizado a participação juvenil, nós aspiramos um consenso nacional onde os jovens sejamos protagonistas e líderes já que somos o sangue novo do país.
JUVENTUDE EM PAUTA - A juventude hondurenha tem um histórico de lutas e organização? Quais as principais?
Carlos - Durante a história se registra a participação dos jovens desde que acompanharam Francisco Morazan no processo de independência da América Central, durante a histórica greve de 1954, na qual se conqustou um código de trabalho no país, assim como muitas lutas pela educação e contra a privatização desse direito humano durante os anos 80. Na Guerra Fria, aconteceram uma série de assassinatos e desaparecimento forçado de vários dirigentes, como o que tentaram silenciar os movimentos juvenis do país, assim como publicaram decretos proibindo a organização juvenil e estudantil. Graças à pressão dos jovens, em 1999 foram revogadas essas leis.
JUVENTUDE EM PAUTA - Qual país e liderança do mundo hoje ou da história representa uma referência política para você e um jovem hondurenho?
Carlos - Para nós, jovens hondurenhos, os ícones latino-americanos como Francisco Morazan, Simon Bolivar e Ernesto Guevara de la Serna representam um exemplo para os jovens de todas as gerações, como bastiões de luta pelos direitos dos mais excluídos, assim como pela dignidade do povo cubano, apesar dos ataques dos Estados Unidos.
JUVENTUDE EM PAUTA - Si hay algo más que quieres hablar, escriba!
Carlos - Os jovens de Honduras cremos muito nas mudanças que estão se desenvolvendo no mundo, em especial na América do Sul, com governos conscientes e integrados por todos os setores. Sabemos que nossa missão é complexa e difícil e que, possivelmente, não gozaremos nem veremos os frutos da mesma tradição, mas sabemos que estamos preparando o caminho para mudanças estruturais em nossos países.
Fonte: Juventude em Pauta

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