20 janeiro, 2009

Sobre a indústria automobilística

Empresários do setor automobilístico ameaçam demitir milhares de trabalhadores em razão da crise.

O governo já reduziu impostos e liberou cerca de oito bilhões de reais para financiar a compra de carros novos.

Os trabalhadores, através de seus sindicatos, se dispõe a discutir a redução da jornada de trabalho e dos salários em troca da garantia de emprego.

Todos aguardam a próxima reunião do Conselho de Política Monetária, do Banco Central, que deverá anunciar acentuada queda nas taxas de juros.

Pode parecer pessimismo, mas essas medidas não vão funcionar.

Em 2000 a produção de carros no Brasil era em torno de 1.500.000 unidades.

Em 2008, com quase o mesmo número de metalúrgicos, o país atingiu a cifra de quase 3.000.000 de unidades produzidas.

O mesmo cenário se repete em outros setores da economia.

Não se trata apenas de crise financeira. É o que o velho Marx dizia: crise de superprodução.

Para garantir o emprego dos trabalhadores seria necessário expandir o crédito a limites irreais, fazendo com que a produção atingisse, até 2010, a incrível cifra de 4.000.000 de carros produzidos por ano.

E então viria a crise. Não precisamos de tantos carros novos, não há "consumidores".

A expansão do crédito, nos últimos anos do governo Lula, permitiu o crescimento vertiginoso nas vendas de carros novos e proporcionou lucros fabulosos para as montadoras. Os trabalhadores também ganharam. Um número maior (mas nem tanto) de empregos e melhorias salariais.

Que, salvo engano, desaparecerão agora, tragados pela "crise".

O governo Lula tem boa vontade, deseja proteger os trabalhadores. Mas não é mágico. Prende-se aos limites de um neokeynesianismo messiânico.

Funcionou para os EUA na crise pós-1929. Mas apenas em razão da Segunda Guerra Mundial, que, além de milhões de mortos, arrasou a capacidade industrial da Europa e gerou gastos fantásticos na área militar.

Tal situação não se repetirá no Brasil.

O governo Lula, com muitas dificuldades, conseguirá amenizar os efeitos da crise, mas, em consequência, muito provavelmente, terá sua popularidade abalada, o que abre caminho para um novo governo tucano.

Um novo governo tucano repetirá as políticas neoliberais, possivelmente com maior empenho, e colocará os trabalhadores numa situação de miséria e desemprego tal que fará o governo FHC-II parecer conto de fadas.

Coloca-se para nós, da esquerda, desde já, a velha questão: socialismo ou barbárie.

Qualquer ilusão neokeynesiana atrasará a crise, mas não a impedirá.

Um comentário:

Anônimo disse...

O problema mesmo foi a que a base do crescimento se apoiou muito no crédito. E, como você bem disse, uma hora ou outra essa capacidade de endividamento acaba.

O esgotamento do consumo pode ser combatido com mais exportação e estímulo ao mercado interno para quem tem carro velho (nesse mercado específico). O problema é encontrar numa das duas pontas (governo e empresários) quem vai querer diminuir seus lucros nesse jogo para que os incentivos se façam possíveis.

Um abraço.